domingo, 12 de agosto de 2007

despedida (opportune tempore... in fine)




hoje despedi-me de ti
ainda que o não saibas
quis olhar-te nos olhos
uma última vez
aconteceste-me um dia
e milhares deles contigo dividi

e vi o baço fulgor nos teus olhos
inexoravelmente rutilantes
a culpa pérfida e muda
volitando em teu redor

no teu rosto vislumbrei
esboços imprecisos das criminações
com que me mimoseaste
certezas convictas 
bebidas em cálices envenenados
taças negras 
erigidas no fundo do mar da vida

todo o teu corpo inquieto
denunciava a renúncia
exalava horrores quiméricos
gritava conluio cônscio

letal veneno voluntariamente ingeriste

milhares de instantes partilhados 
bordados de sorrisos uns
outros de lágrimas deslustrados
roseirais de ilimitadas cores
e de espinhos mil aguçados

errámos o caminho
outros - brilhantes - nos aguardam
assim saibamos merecê-los
sem mágoas nem melindres

hoje despedi-me de ti
e há um templo de memórias
que comigo habita
hoje
amanhã
sempre




alexandra, 2003



4 comentários:

Anónimo disse...

A dorida tristeza de uma despedida marcada por alguma amargura ou, talvez, incompreensão...
"que letal veneno voluntariamente ingeriste!" aponta para a injustiça deste fim magoado.

Muito bonito!

Beijo amigo.

Carla M.

alexandra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

A DOR DE UMA DESPEDIDA É COMO O FÉL QUE AMARGA NOSSOS SENTIMENTOS E DEIXA NO AR A INCERTEZA DAQUILO QUE NÃO COMPREENDEMOS OU NÃO ACEITAMOS, E PRINCIPALMENTE, QUANDO ESSA PERDA MACHUCA PELA INJUSTIÇA E DESLEALDADE DA PESSOA AMADA.
BELAS PALAVRAS!
ABRAÇOS CARINHOSOS.
VALDO BENTES.

Anónimo disse...

Obrigada, Valdo, as suas palavras são, para mim, um incentivo precioso.

A.